A tradição de um país se constrói principalmente pela linguagem. Não há país que sem sua própria gíria, suas próprias frases e expressões lingüísticas que o definem. Em países de extenso território como a Argentina, esta singularidade é inclusive distinguível nas diferentes cidades. Buenos Aires, claro, não é a exceção. E como cidade cosmopolita que é, tem palavras e frases que provem dos lugares mais diversos.
Recentemente, a Academia Argentina de Letras publicou o livro "Parla Argentina", um compilatório dessas expressões que nos definem. Seu objetivo é capturar a língua viva do povo, sua criatividade, suas ocorrências, a chispa e a cor da nossa língua. 30% do seu conteúdo provem da fala cotidiana ("A la marchanta" –ao acaso-, "patinarse los mangos" -gastar o dinheiro-, "cargar con el muerto", carregar com o morto, –se fazer responsável-), outras frases vem do campo rural ("mojar la chaucha", molhar a vagem, -copular- ou "falta de potrero", falta de potreiro, –uma referência ao futebol do bairro-) ou inclusive do século XIX ("Donde el Diablo perdió el poncho", Aonde o diabo perdeu o poncho, –um lugar distante-).
O dicionário decidiu incluir também as frases escatológicas o de conteúdo sexual que são de uso comum. Por exemplo: "abrirle la boca al bagre" (tirar a virgindade de uma mulher), "levantar carpa" –levantar a barraca- (ter uma ereção que insinua nas calças) ou "hacer manualidades" –fazer manuais- (masturbar-se). Finalmente, podem se encontrar clássicas frases como: "Andá a cantarle a Gardel" –vai cantar ao Gardel- (expressão de incredulidade), "¡De acá!" (usada para enfatizar uma negativa rotunda) ou a recente "Que se vayan todos" –vão embora todos- (expressão de desgosto general forjada durante o colapso econômico e político de dezembro de 2001).
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